Tuesday, February 5, 2013

Guerras geográficas


Já sei. Toda guerra é geográfica. Geopolítica, expansão territorial, blá, blá, blá. Não sou tão estúpido assim.

Não é disto que estou falando.

Viajar é gostoso, mas no Brasil é, acima de tudo, um símbolo de status.

Já me deliciei diversas vezes presenciando verdadeiras batalhas geográficas, conversas entre pessoas que querem provar que conhecem mais lugares, ou que os conhecem melhor do que seus interlocutores. Crêem que supostamente isto lhes dá mais nível, uma posição mais destacada na escala de evolução humana.

A coisa começa de uma forma muito sutil. Maresias, Angra dos Reis, Campos do Jordão. Daí passa para Salvador, Natal. Destinos domésticos básicos. A próxima etapa da batalha, mais séria, é Porto de Galinhas, Costa do Sauípe, para os praianos, Floresta Amazônica e Pantanal para os eco-conscientes. Nesta fase os guerreiros ainda estão testando o inimigo e planejando os futuros ataques.

A guerra começa para valer quando os guerreiros pegam seus passaportes. Buenos Aires é um ponto inicial favorito, até porque fica perto, e não custa muito caro. Demonstrar bastante familiaridade com BA é necessário. Onde comer o melhor peixe da cidade (carne todo mundo sabe), o melhor hotel barato sem baratas e o melhor lugar para ouvir tango-punk-jazz argentino, mesmo sem gostar, são armas necessárias para quem quer ganhar esta batalha de titãs logo na sua fase inicial.

Geralmente aí começa o chumbo grosso. Nova York, Paris, Miami, setenta viagens à Disney World (e cinco à Disneylandia). Uma única viagem à Disney significa batalha perdida. Demonstrar vasta cultura gastronômica (se possível lugares não frequentados por turistas, tanto os super baratos ou como os super caros, nunca os medianos) faz parte da guerra. Conhecimento de banheiros públicos limpos, demonstrar irritação e desprezo aos pontos turísticos populares e saber de cor a tarifa atual dos taxis é essencial. Ter fotos, vídeos e lembranças como caixas de fósforos também faz parte do arsenal. Nesse caso, leva vantagem quem é o mandante do jogo, portanto sempre deixe seu álbum á vista.

Nessa altura da guerra, muitos recorrem ao jogo sujo. Mentira é uma arma muito usada embora geralmente, a parte contrária concorde com a mentira, para não ficar para trás. Usurpar experiências de outros, extraídas de revistas de viagens ou da internet é um outro elemento bélico comumente usado.

Se a batalha ainda não terminou, o jeito é falar da Albânia, Belize, Montserrat e Groenlândia, lugares exóticos, mas ainda assim próximos da nossa área de influência, Europa e Américas.

A última tacada deve ser o super exótico - Chade, Papua-Nova Guiné, Omã, Vanuatu, Butão, Seychelles. Sempre viaje durante a temporada de tufões, pois histórias de tsunamis (de preferência com algum tipo de cicatriz) ganham qualquer batalha. Picadas de sapos venenosos, malária e ser sequestrado por piratas também garantem muitos pontos.

E se nada disso funcionar, Antártida! Quero ver quem foi para a Antártida. NO INVERNO!

Afinal de contas, o povo viaja para aprender mais, se divertir e curtir a Terra, ou para contar vantagem???

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